A MAIOR "VERGONHA" DO FUTEBOL CEARENSE NÃO É SÓ CULPA DAS TORCIDAS ORGANIZADAS !!!
A maior vergonha do futebol cearense não é culpa só das torcidas organizadas
Nós, brasileiros, temos a mania de apontar para uma classe, um órgão ou alguém como o grande culpado por determinada mazela. As invasões de terra são os sem-terra, a corrupção no País é com os políticos e a violência no futebol é das torcidas organizadas.
Puxando um pouco para a política, como bem diz o genial jornalista Bob Fernandes, nós adoramos apontar que o problema do Brasil são os políticos e que a corrupção é feita por eles. Como se não existisse o corruptor, como se os políticos não fossem eleitos por nós e como se eles fossem o salvo-conduto dos nossos problemas: é corrupção, são os políticos que não prestam.
A violência no futebol é mais ou menos semelhante. Teve briga? Culpa das organizadas. Teve confusão, tumulto? São esses marginais disfarçados de torcedores.
Se você acha que todo político é ladrão, então, recomendo nem a ler o restante deste post, porque eu não considero todo membro de torcida organizada marginal ou bandido. Pelo contrário, há muitos cidadãos decentes. Filho de um amigo meu toca na banda de uma torcida organizada. É uma pessoa maravilhosa, decente e honesta.
Torcida organizada, assim como muitas instituições, possui gente ruim, falsa, covarde, bandida, desonesta e que gosta de fazer o mal. Isso é fato. Mas daí a culpá-la por toda a violência no futebol é desconhecimento da realidade ou má fé.
Você sabia que existe dirigente de clube de futebol que dá ingresso e dinheiro para a torcida organizada?
A maior vergonha da história do futebol cearense proporcionada por centenas de pessoas ontem, na Arena Castelão, tem de ser atribuída a diversos fatores e a vários culpados. É injusto apontar “as organizadas” como o grande vilão dessa triste página.
Vejamos o seguinte: Quantas pessoas foram presas naquele episódio das cadeiras quebradas na partida Fortaleza 1×1 Macaé em que o clube tricolor e a Arena Castelão preferiram dizer que os prejuízos foram mínimos?
Quantos seguranças particulares, ontem, estavam presentes no campo protegendo o gramado do Castelão para a torcida não invadir?
Se houvesse um policial em cada acesso ao campo, ele conseguiria impedir a massa de invadir o gramado? Se sim, então, por que, depois, quando o efetivo da PM apareceu não conseguiu colocar os torcedores de volta à arquibancada?
Há muitas perguntas e praticamente nenhuma resposta, ou pior, nenhum culpado.
A selvageria de ontem é a mesma que presenciamos no nosso cotidiano. Quando lemos e ouvimos relatos de amigos sobre assaltos em sinais de trânsito, saidinhas bancárias, sequestros relâmpagos, assassinatos de taxistas, roubos de celulares, casas invadidas…
Quem não foi ou não conhece alguém que sofreu alguma violência traumática no Ceará ou no Brasil que se ajoelhe no chão.
Como bem diz o também jornalista Paulo César Norões: “o futebol é apenas um espelho da nossa sociedade”. Falta investimento em segurança e educação, sobra impunidade.
Quer acabar com as torcidas organizadas? Você sabia que elas não podem entrar nos estádios com adereços, vestimentas ou qualquer outro objeto que as identifique.
Está bem, vamos lá, acaba as organizadas. Pronto. Você acha mesmo que essas pessoas que fizeram o que fizeram ontem, vão simplesmente virar santos e ao invés de irem para o Estádio vão para a igreja rezar ou vão começar a ajudar o próximo?
Sério que vocês acham que eles não vão se organizar (sejam em milícias, associações ou mesmo mudando o nome da instituição para CEOAF Centro organizado de apoio ao futebol) e vão sozinhos ao estádio apenas torcer para o time do coração? O buraco é mais em baixo, galera.
Num País, onde há formação de quadrilha dentro do Congresso Nacional, achar que essas pessoas não vão se juntar para fazer maldade é o mesmo que acreditar em duendes (se bem que a Xuxa jura de pé junto que viu um).
O primeiro passo para amenizar a maior mácula do esporte no Ceará é identificar e punir severamente e especificamente quem invadiu e fez vandalismo. Depois punir os clubes e os responsáveis pela segurança da partida.
Depois, um grande debate, com diversos setores da sociedade: sociólogos, dirigentes de clubes e de federações, torcedores comuns e organizados, Polícia Militar, poder Judiciário, parlamentares, secretários municipais e estaduais, administradores de estádio e a mídia.
Há muito mais por trás de uma selvageria como a que ocorreu ontem, do que possamos imaginar.
Se a tragédia no estádio Hillsborough mudou para sempre a história do futebol inglês, que o futebol cearense não espere morrer ninguém dentro de um estádio para tomar as providências necessárias. Do contrário, o futebol vai deixar de ser uma paixão para virar grande ilusão, que infelizmente vai provocar assassinatos.
Publicado em 04/05/2015 - 8:59 por Mário Kempes |
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