TEMPO DE APRENDER!!!

TEMPO DE APRENDER!!!

*** FALA GRAZIANI *** FALA GRAZIANI ***

Fico até sexta-feira aqui em Joanesburgo. A cidade vai voltando ao normal depois da realização da Copa. Na rádio e na TV, trabalho encerrado e agradeço demais a todos que tiveram a oportunidade de acompanhar a cobertura. Nesta terça-feira o jornal O POVO publicou minha penúltima crônica direto da África.

Nesta quarta, a derradeira, que também vou postar aqui, neste trabalho que me deu muito orgulho. A todos os leitores um agradecimento especial pelos comentários elogiosos, críticos e também por tantos e-mails bacanas que recebi durante estes mais de 40 dias de trabalho na África do Sul, um lugar simplesmente encantador, com pessoas mais do que gentis, apesar de tanta pobreza e injustiça social.

Chego a Fortaleza na tarde do próximo sábado. Na volta, alguns dias de folga e novamente o Campeonato Brasileiro, a Libertadores e tudo sobre o nosso futebol.

Obrigado.

E agora, a crônica:

Tempo de Aprender

Minha história de hoje chegou durante o primeiro jantar depois do fim da Copa do Mundo. E foi arrebatadora. Fazia tempo que a moça estava nos olhando e percebi quando ela comentou com o marido que éramos brasileiros. Entretido com um delicioso filé de peixe, nem percebi quando ambos pararam em pé bem ao lado da nossa mesa. “Eu vi que vocês são do Brasil, eu também sou. Me chamo Andréa e esse é o Kent”.

Eles estão casados desde 2003. Se conheceram em Moçambique durante um trabalho missionário de evangelização e educação voltado para crianças órfãs. De passagem por Joanesburgo para esperar a renovação do seu passaporte, Andréa queria apenas saber como tinha sido a Copa, mas também nos contar que depois de sete meses nos EUA, voltará a Moçambique com o marido na semana que vem, onde já vivem há seis anos. “Trabalhamos com meninos e meninas que vivem uma situação que ninguém pode imaginar. São seres humanos esquecidos pelo resto do mundo, que aguentam níveis de sofrimento inimagináveis”.

Nutricionista, Andrea é paulista. Desenhista Industrial, Kent é norte-americano e optaram por largar todo o conforto para viver numa aldeia que nem chuveiro tem, na cidade de Pemba, litoral de um dos países mais pobres do mundo. “A África do Sul não pode ser parâmetro para o continente. Você é nosso convidado para visitar Moçambique se quiser conhecer a realidade perversa que a humanidade ignora por aqui”, conta Andrea, firme em seguir por esse caminho. “Não é fácil, mas quando eu vejo uma criança respondendo positivamente ao trabalho ganho esperança para não parar nunca”.

A conversa ainda durou cerca de meia hora, tempo em que o brilho nos olhos do casal permaneceu intenso. Tempo também para que eu ficasse absolutamente impressionado com vida levada por Andrea e Kent. Tempo para eu me comover e me sentir um privilegiado por ouvir aquilo tudo e perceber o quanto é possível e necessário fazer mais pelos outros, principalmente para quem não tem nada.

Fernando Graziani
Direto da África do Sul
13/07/2010