HISTÓRIAS DO QUARENTÃO RONALDO ANGELIM !!!
Pelada com garçons, carona de fã: as histórias do agora quarentão Angelim
Marcado pelo jeito simples de levar a vida, herói do hexacampeonato brasileiro nega status de ídolo, mas reconhece que muitos rubro-negros o admiram por todo o país
Marcado pelo jeito simples de levar a vida, herói do hexacampeonato brasileiro nega status de ídolo, mas reconhece que muitos rubro-negros o admiram por todo o país
Ronaldo Angelim mora em Juazeiro-CE, onde a história do padroeiro Padre Cícero, o Padim Ciço (Foto: Cahê Mota)
Herói
do hexacampeonato brasileiro, Ronaldo Angelim é ídolo da torcida
rubro-negra, mas rejeita tal status. A simplicidade sempre o marcou.
Avesso à noitadas,
joias e roupas de grife, coleciona passagens que escancaram o desapego
às coisas materiais. Jogava pelada com garçons na Praia de Copacabana,
onde também tinha o hábito de comer macarrão sentado sob uma árvore na
movimentada esquina da Rua Barão de Ipanema com a Avenida Atlântica.
Voltava do Maracanã no ônibus do clube, mas, na ausência do veículo
oficial, já pegou até carona com torcedor, em história narrada pelo hoje
santista David Braz, seu parceiro de zaga e autor do outro gol do
Flamengo na vitória por 2 a 1 sobre o Grêmio em 6 de dezembro de 2009.
Angelim
completa 40 anos nesta quinta-feira, e, embora tenha pendurado as
chuteiras em 2013, segue subindo para cabecear a bola contra a rede do
Grêmio a cada clique diário dado pelos fãs para rememorar a conquista
que interrompeu jejum de 17 anos no Brasileiro. É ídolo ou não?
-
Ih, rapaz, "ídolo-ídolo" é Zico. Eu acho que fiz um bom trabalho aí,
mas ídolo é Zico. Tenho o reconhecimento, sei que a torcida gosta e tem
carinho por mim, mas ídolo é Zico - insistiu, em contato telefônico com o
GloboEsporte.com.
Angelim
confessa que, quando pequeno em Juazeiro do Norte, no Ceará, não
vislumbrava honrar um dia a camisa do Flamengo, a mesma que vestia desde
pequeno.
- Se eu falar pra você que imaginava, vou estar é
mentindo e muito. Jamais imaginaria que ia jogar seis anos no clube do
meu coração e conquistar títulos importantes com meus companheiros. É
uma coisa que vai ficar pra sempre, para os meus filhos, netos. Não tem
preço, foi maravilhoso.
Filho
do vascaíno Antônio Leite, quem Angelim garante hoje estar mais para
flamenguista do que cruz-maltino, passou a herança rubro-negra aos
filhos Ronald e Rikelme, de 15 e 9 anos. A dupla integra a base do Icasa
e não dará forra ao pai: é formada por dois defensores.
-
(perguntado se não era melhor que os filhos fossem atacantes) Não
(risos), eles querem jogar na posição que o pai jogou e fica mais fácil
de ensinar.
Meses antes do gol do hexa, em documentário sobre o
tricampeonato carioca de 2007/2008/2009, Angelim cunhou frase que o
tornou ainda mais popular junto aos rubro-negros: "A minha vaidade é o
Flamengo vencer". Seis anos depois, o zagueiro detalha a declaração.
-
Sou torcedor mesmo, gostava tanto do clube. Acho que qualquer coisa que
ouvia de pessoas que não tinham compromisso me incomodava. Jogar pelo
Flamengo é oportunidade única, e algumas pessoas desvalorizam isso. Como
sou um cara que visto a minha camisa, isso (descompromisso) me chateia
mesmo.
E Angelim teria alguma vaidade para encarar a "fase quarentão"?
-
Vaidade nenhuma. Todos nós vamos ficar velhos, tem que agradecer a
Deus. Completar mais um ano é motivo de felicidade para mim. Tô
tranquilo, sossegado. O corpo é o mesmo. Procuro fazer as coisas
corretas e racho (joga pelada) todo dia para não engordar. Tem que
rachar (risos). Ontem, aliás, foi o dia do meu racha.
O
"racha" com garçons conterrâneos, aliás, era hábito dos tempos de Rio de
Janeiro, mas somente quando havia brecha no calendário rubro-negro.
-
Jogava com os garçons quando não tinha compromisso sério do Flamengo,
mas só participei uma vez jogando mesmo (na linha). Nas outras, eu ia
pro gol pra completar o time.
carona com torcedor
Ronaldo Angelim e David Braz em treino do Flamengo em 2011
(Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
(Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
Autor
do primeiro gol rubro-negro na partida contra o Grêmio que garantiu o
hexa, David Braz era muito próximo de Angelim na época de Flamengo. Nas
viagens, invadia sempre o quarto do amigo, que concentrava ao lado do
lateral Juan. Nos jantares, eram sempre os últimos a subir, porque Braz
adorava ouvir as histórias de Angelim. Uma das mais curiosas foi o
próprio santista que presenciou.
- Num jogo, eu e ele ficamos
para o antidoping e saímos muito tarde do Maracanã. O ônibus do Flamengo
(que Angelim usava para se deslocar até à Gávea e de lá pegar carona
com a família) já tinha ido embora. Ofereci carona a ele, que respondeu:
"David, você mora na Barra e eu, em Copacabana. Vai ficar muito
contramão". Estávamos no estacionamento autografando camisas e parando
para fotos. Um torcedor escutou nossa conversa e disse: "Angelim, eu
moro em Copacabana. Eu te levo". O Angelim disse "Demorou, vou contigo
então" e foi (risos). Eu nunca tinha visto um jogador fazer isso, era um
cara muito humilde, simpático e carismático com os torcedores. Pegou a
carona com um cara que nem sabia quem era. Foi muito legal - relatou
Braz, em depoimento concedido um dia antes da final da Copa do Brasil.
David Braz, aliás, considera Angelim ídolo dos rubro-negros e dele próprio.
- É
ídolo do Flamengo e meu ídolo também. Gostei muito de jogar ao lado
dele, aprendi muito com ele, que me ajudou muito na minha passagem pelo
Flamengo, até mesmo quando não atuava do meu lado. Sempre procurava me
orientar, desde a chegada até o final. Até hoje a gente tem contato, a
família dele me manda queijo e uns doces do Ceará. Presenteei a família
dele com a camisa do Santos pela nossa amizade. Sempre estamos nos
falando - emendou.
abraço do capitão e "batcaverna" do papada
Fabio
Luciano e Ronaldo Angelim assistiram juntos à semifinal da Copa do
Brasil de 2013, contra o Goiás (Foto: Master Sports & Mkt)
Embora
tenha tentado primeiramente contato com Ronaldo Angelim, o
GloboEsporte.com só conseguiu o retorno do ex-zagueiro um dia depois.
Fabio Luciano foi o primeiro dos personagens da matéria a responder e,
informado das dificuldades de se encontrar Angelim, brincou: "É a
Batcaverna do Papada", fazendo alusão ao estilo reservado do
ex-companheiro. Em seguida, o capitão do tricampeonato carioca de 2009,
encheu a bola do amigo e decretou: é ídolo, sim senhor.
- Não
só para mim, mas como para todos os torcedores do Flamengo, tenho a
certeza de que o Angelim será um ídolo eterno do clube. Não só pelo gol
decisivo contra o Grêmio, mas também por toda dedicação e entrega
vestindo a camisa do Flamengo. Por sua competência,simplicidade e
eficiência, ficará marcado para sempre na memória de todos os torcedores
e atletas que jogaram ao seu lado. Tenho um carinho e respeito eterno
por todos os atletas que estiveram ao meu lado em todos os clubes que
passei, independentemente de posição ou titularidade, mas o Angelim tem
um lugar muito especial em tudo isso. Fizemos uma dupla de zaga
consistente, respeitada dentro do clube e pelos adversários, mas
principalmente tenho o orgulho de dizer que trabalhei com um dos caras
mais incríveis que existiram no meio da bola. Íntegro, honesto, amigo,
sincero, profissional e competente. Desejo a você, Magro de Aço, toda a
felicidade do mundo e saúde. Que Deus abençoe seus caminhos sempre,
amigo, e conte com seu Capitão para tudo e quando precisar - encerrou.
Imagem com brincadeira "There's only one Ronaldo" foi divulgada pelo "Bola nas Costas" (Foto: Reprodução)
O
apelido Papada, como os companheiros de Flamengo referiam-se a Angelim,
não foi criado por Fabio Luciano, mas, de acordo com o aniversariante
do dia, o capitão consolidou a brincadeira.
- Quem botou
apelido o de Papada foi o Fabiano Oliveira, atacante. Fabio Luciano
começou a me chamar assim e pegou. Antes e depois dos treinos, a gente
ficava brincando de acertar o travessão.
Quando acertava, eu falava:
"Ui, papada!". Aí pegou.
Papada ou Magro de Aço, Angelim é o
único Ronaldo para os rubro-negros. A torcida do Fla, após o gol do
hexa, adotou a frase "There's only one Ronaldo", provocação de fãs de
Cristiano Ronaldo ao Fenômeno. No caso flamenguista, tratava-se de
indireta também a R9, que optou pelo Corinthians em 2009. Com a
traumática saída de Ronaldinho Gaúcho, em 2012, o lema ganhou ainda mais
força.
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