EM DEPOIMENTO, PAI DE NEYMAR DIZ TER IDEALIZADO CONTRATOS SOB INVESTIGAÇÃO !!!
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Em depoimento, pai de Neymar diz ter idealizado contratos sob investigação
Ao MPF paulista, empresário defende legalidade, enquanto à Justiça espanhola ele afirma que o "Santos não precisava saber" de acordos que colocaram atleta no Barça
Em depoimento ao Ministério Público Federal de São Paulo, o pai de Neymar, Neymar da Silva Santos, afirma ter sido dele a ideia dos acordos assinados em 2011 para a transferência do atacante ao Barcelona,
que seria concretizada apenas dois anos depois. Os contratos se
tornaram alvo de polêmica e resultaram em investigações fiscais e
criminais no Brasil e na Espanha. Além disso, geraram uma disputa
milionária com o Santos na Fifa.
Em gravação obtida pelo GloboEsporte.com(veja acima),
o empresário detalha à Procuradoria da República de Santos passos da
negociação que levaram o principal astro brasileiro ao futebol europeu.
As declarações, de 8 de maio de 2015, são parte de procedimento que
apurava a suspeita de crimes de falsidade ideológica e sonegação fiscal
nos rendimentos recebidos pelo atleta do Santos, do Barcelona e de
patrocinadores.
No depoimento, Neymar da Silva Santos declara
que os acordos se tornaram modelo para o clube espanhol, que teria
utilizado o formato com outros atletas após a transferência de Neymar.
– Aprenderam comigo – diz o empresário ao procurador Thiago Lacerda Nobre.
Neymar e seu pai, Neymar da Silva Santos, prestaram depoimento à Justiça de Madri em fevereiro de 2016 (Foto: AP)
Os
mesmos contratos, entre a N&N Consultoria, empresa de Neymar da
Silva Santos, e o Barcelona, geraram questionamentos também da Audiência
Nacional de Madri, órgão do judiciário espanhol que investiga a
negociação.
Ao juiz José de la Mata, o empresário diz que o
Santos "não precisava saber" das negociações com o Barcelona, que
ocorreram quando Neymar ainda tinha mais de dois anos de vínculo com o
clube brasileiro, de acordo com a transcrição do depoimento concedido em
2 de fevereiro de 2016, também obtida pelo GloboEsporte.com. Neymar foi inquirido no mesmo dia.
O
pai do atleta também diz que os dirigentes da equipe catalã tentaram
evitar o pagamento de 30 milhões de euros à N&N quando o jogador se
transferiu em 2013. A atitude gerou reação de Neymar da Silva Santos,
que ameaçou não autorizar a transferência se não recebesse o valor.
A assessoria de imprensa de Neymar foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos do GloboEsporte.com até a publicação desta reportagem. O Barcelona informou, por e-mail, que não comentaria as declarações.
"Adianta uns 10 milhão"
Em novembro de 2011, de posse de uma carta assinada pelo então presidente do Santos,
Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, morto em 2016, que o autorizava a
negociar o futuro do Neymar, Neymar da Silva Santos assinou, através da
N&N, um contrato de 40 milhões de euros com o Barcelona para
garantir a transferência do jogador em julho de 2014, quando fosse
encerrado o vínculo do atacante com o Santos – a empresa se declarava a
detentora dos direitos de Neymar a partir do momento em que ele se
tornasse agente livre.
Menos de um mês depois, o Barcelona
aceitou pagar 10 milhões de euros através de um contrato de empréstimo,
forma utilizada para evitar que o pagamento fosse caracterizado
formalmente como um adiantamento, o que desrespeitaria as regras de
transferência da Fifa.
Ao MPF, Neymar utiliza a transferência do filho para falar, de forma hipotética, sobre o modelo desenvolvido por ele.
–
Você quer esse moleque pra... não, só entrego daqui a dois anos.
Adianta uns 10 milhão aí (sic), como a título de empréstimo, legaliza –
conta Neymar ao procurador.
No último dia 4, o GloboEsporte.com
revelou áudios dos depoimentos do ex-presidente do Barcelona Sandro
Rosell, e do atual, Josep Maria Bartomeu, à Justiça de Barcelona em que ambos admitem terem pagado um "sinal" e contratado Neymar em 2011,
muito antes do prazo permitido pela Fifa, que só autoriza a assinatura
de pré-contratos a jogadores com no máximo seis meses de vínculo –
Neymar estava a dois anos e meio do fim de seu contrato com o Santos.
Rosell
deixa claro em seu interrogatório, de 2015, que negociou um
adiantamento, e que o departamento jurídico do Barcelona é quem entendeu
ser melhor formalizar o repasse como um empréstimo.
No tribunal de Madri, Neymar da Silva Santos justifica o pagamento dos 10 milhões adiantados para a gestão da carreira do filho.
–
Se estamos fazendo um contrato para que Neymar chegasse livre em 2014,
eu tinha três anos para trabalhar. [...] Então me adianta alguma coisa
para que eu trabalhe e faça a gestão do jogador.
A resposta não satisfez o juiz:
–
Esse empréstimo era um pagamento antecipado dos 40 milhões (de euros),
de uma parte dos 40 milhões (de euros) – insiste de la Mata.
– Sim, poderia ser – afirma Neymar da Silva Santos, que depois contemporiza:
–
Se eu não entrego Neymar, eu tinha que devolver o empréstimo e pagar 40
milhões (de euros). [...]
E eu tinha que fazer a gestão desses 10
milhões de euros, não? Porque eu tinha que devolver na (cotação atual
da) moeda.
Neymar é apresentado por Josep Maria Bartomeu (à esq.) no Barcelona, em 2013
(Foto: Getty Images)
"Não precisava hablar para Santos"
O
Santos só soube do acordo entre o pai do jogador e o Barcelona,
assinado em 2011, após a transferência ser concretizada em 2013. Pela
rescisão, o clube paulista recebeu 17,1 milhões de euros, valor dividido
com os fundos de investimentos DIS (40%) e Teisa (5%).
Apesar
do vínculo vigente e superior aos seis meses em que a Fifa permite a
assinatura de um pré-contrato, Neymar da Silva Santos defendeu ao juiz
de la Mata que não tinha a obrigação de informar ao Santos sobre os
acertos com o Barcelona.
– Ele (Santos) sabia que ia eu
negociar meu filho futuramente. Que eu poderia falar para os clubes
(interessados) que não sairia agora, só sairia em 2014 – respondeu.
De la Mata, novamente, insiste em saber se o Santos tinha conhecimento dos acordos firmados com o Barcelona.
– Santos não faz parte, não precisava saber – completa Neymar.
O
assunto volta à tona mais à frente no interrogatório, quando o juiz
questiona se o contrato de 40 milhões de euros influenciou no valor que o
Barcelona pagou ao Santos em 2013, de 17,1 milhões de euros.
– Não precisava hablar para Santos – diz Neymar, misturando português com espanhol.
No
mesmo depoimento o pai do atacante afirma que o Barcelona tentou evitar
o pagamento dos 30 milhões de euros restantes do acordo com a N&N
quando definiu a contratação de Neymar em 2013.
O empresário conta que
bateu o pé e exigiu o cumprimento do combinado.
– Barcelona achou que pagaria para Neymar, para mi empresa,
pagaria de multa 17 milhões e 100 (mil euros), e eu perdoaria (o
pagamento dos 30 milhões de euros restantes), e (o Barcelona) me
perdoaria o empréstimo de 10 milhões (de euros). Eu executei, eu falei
para o Barcelona: "Ou tu me paga ou Neymar não vai".
Os 30
milhões de euros exigidos por Neymar da Silva Santos foram pagos: 25
milhões de euros em setembro de 2013, os 5 milhões de euros finais no
começo de 2014.
Por conta desses contratos, a DIS denunciou
Neymar, seu pai e o Barcelona na Justiça da Espanha por fraude – a
promotoria local pediu, em novembro, que o atacante fosse condenado a dois anos de prisão, além de multa equivalente a R$ 36 milhões.
No Brasil, os mesmos personagens protagonizam denúncia do Ministério Público, que os acusa de sonegação e falsidade ideológica. O pedido foi rejeitado pela Justiça Federal
em fevereiro do ano passado, mas sem a análise das acusações. O
argumento para o arquivamento foi o de que a denúncia só poderia ser
feita após o fim de processo administrativo na Receita Federal. O caso
ainda não se encerrou no Fisco – um recurso será julgado a partir desta
quinta-feira (19) pelo Carf (Conselho Administrativos de Recursos
Fiscais), em Brasília.
"Ninguém pode falar nada"
Ao MPF paulista, Neymar da Silva Santos defendeu a legalidade de toda a operação:
– Tanto que hoje lá na Fifa o Neymar é exemplo. É um modelo de gestão que está sendo utilizado – afirmou.
Ele
cita o próprio Barcelona como clube que implantou o formato após a
contratação de Neymar. À época do depoimento, em maio de 2015, os
catalães estavam impedidos pela Fifa de registrar novos jogadores por
aliciar atletas menores de idade.
– Sabe qual a gerência que
eles estão estudando? A nossa. Sabe o que eles fizeram? Eles estão
contratando. Contrata para pegar depois.
Um dos casos que se aproximam ao que foi dito por Neymar é o do meia turco Arda Turan. O jogador, então do Atlético de Madrid, foi contratado pelo Barcelona em julho de 2015,
quando a punição ainda estava vigente. O atleta, porém, ficou seis
meses apenas treinando e só pôde estrear em janeiro de 2016, quando o
clube já podia registrar novos reforços.
Há diferença
importante com relação ao caso de Neymar, entretanto. O Barcelona entrou
em acordo com o Atlético para ter Turan, enquanto ignorou o Santos ao
fechar um contrato diretamente com Neymar – só procurou a direção
alvinegra em 2013 ao decidir não esperar o fim do vínculo do jogador, já
que era necessário negociar uma rescisão.
O pai do atacante
defende ter conversado com os espanhóis com permissão do presidente do
Santos na época, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, que assinou uma carta
que autorizava o empresário a negociar a transferência de Neymar.
O
Santos, hoje, entende que o documento não foi respeitado, pois, para a
diretoria, só permitia a concretização de uma transferência a partir de
julho de 2014 – na visão alvinegra, o negócio foi selado em novembro de
2011 com o pagamento de 10 milhões de euros ao pai de Neymar.
Carta em que o Santos autoriza o pai de Neymar a negociar a transferência do atleta
(Foto: Reprodução / Instagram)
Ao Ministério Público, o empresário reforça sua tese:
–
Aí o que o Barcelona está fazendo? Chegou direto no jogador, fez, daqui
a dois anos eu pego você. Assim seu Neymar? Assim. Simples. Porque aí a
Fifa, ninguém pode falar nada. [...] Se eu não registrar não tem
problema na Fifa. E não pode registrar, mas eu posso fazer um contrato.
[...] E executo lá na frente – explica o pai de Neymar.
Nos tribunais
O pré-acordo entre Barcelona e Neymar levou o Santos à Fifa,
onde os brasileiros cobram uma indenização de cerca de 65 milhões de
euros pela transferência supostamente irregular do atacante. O caso também pode render uma suspensão ao atleta. Não há previsão para uma definição, porém.
Em
entrevista ao "Redação SporTV", no último dia 4 de janeiro, o advogado
Marcos Motta, que representa Neymar na Fifa, afirmou que o pai do atacante tinha autorização para negociar "com o clube de sua escolha" pela carta de Luis Alvaro.
Mas os questionamentos vão além da esfera esportiva. Há procedimentos fiscais e criminais tanto na Espanha como Brasil.
O
primeiro deles, em Barcelona, de onde saíram os depoimentos em que
Rosell e Bartomeu admitem o pagamento de um "sinal" ao pai de Neymar em
2011, foi encerrado em dezembro. A Justiça, que investigava crime de
sonegação, fez acordo com o clube catalão, que pagou multa de 6 milhões
de euros.
Outro processo está em Madri, este uma denúncia do
fundo de investimentos DIS, que acusa Neymar de fraude. A ação chegou a
ser arquivada em julho de 2015 – o juiz de la Mata concluiu que, apesar de Neymar e o Barcelona terem burlado as regras da Fifa,
não havia indícios de crime perante a lei espanhola –, mas foi reaberto
em segunda instância, quando houve o pedido de prisão ao jogador pelos
promotores locais.
As autoridades brasileiras também atacaram a
transferência. Primeiro foi a Receita Federal, que multou Neymar em R$
188,8 milhões por sonegação fiscal – valor que foi bloqueado pela Justiça
e já ultrapassa os R$ 200 milhões, com juros. O atacante recorre dessa
decisão no Carf, em julgamento marcado para começar nesta quinta-feira,
em Brasília.
A sessão do Conselho será acompanhada de perto
pelo Ministério Público. Os procuradores esperam que a sanção seja
mantida para que possam apresentar nova denúncia criminal contra o
jogador, já que assim, esgotados os recursos administrativos, estaria
ultrapassada a barreira que impediu a apreciação das acusações feitas em
2015 à Justiça Federal.
Na denúncia feita em janeiro do ano
passado, os procuradores imputaram 21 crimes de sonegação e 12 de
falsidade ideológica ao pai do atleta, além de outros três crimes de
sonegação e seis de falsidade ideológica a Neymar. Ambos sempre negaram
as acusações.
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