DIEGO LAGE: "PENTA QUE PARIU"!!!
Penta que pariu!
O jornalista Diego Lage, torcedor do Fortaleza, escreve sobre uma vitória histórica do Tricolor de Aço no Campeonato Cearense de 2000
*por Diego Lage
Não era um Clássico-Rei. Nem uma final de Campeonato. Mas, para mim, a tarde de 15 de março de 2000 foi o meu momento inesquecível no esporte em pouco mais de 20 anos de arquibancada.
Fortaleza 2×1 Itapipoca.
Gols de Rogers e Bechara.
Fazia tempo que o Fortaleza não montava um time à altura de sua história. Pior: o Ceará, turbinado pelo patrocínio de um banco, caminhava a passos largos rumo ao pentacampeonato no Estadual. Como assegurava o dirigente Eulino Oliveira, “o penta não tem preço”. E não tinha. A derrama de dinheiro parecia uma torneira lavando roupa suja.
O começo não foi bom e o Fortaleza caiu no primeiro turno do Campeonato Cearense antes da final.
A estrela era o baixinho Clodoaldo e o time era esforçado. O Ceará, por sua vez, foi montando uma Seleção: alguns “vovôs” que vestiram a camisa amarelinha chegaram a Porangabuçu. E o time alvinegro foi fazendo valer seu favoritismo. “Este é mais um gol para a história do penta”, exclamava um mau locutor.
Da minha parte a vida de torcedor era a mesma de sete anos consecutivos: ir ao estádio era ter a certeza de que tudo poderia dar certo, mas a tendência era dar errado – e o Fortaleza perder. E, ao final, o Ceará ser campeão.
Mas o time esforçado começou a dar certo. As vitórias foram chegando e nós chegamos à final do segundo turno. O Ceará ficou pelo caminho. E veio o Itapipoca. Domingo à tarde e o PV estava lotado. Lembro de ver torcedores auxiliando outros a subir nas antigas torres de iluminação do estádio. Não havia mais lugar. Eram mais de 20 mil pessoas – e eu não lembro o público pagante.
A bola rolou e o Fortaleza atropelou o Itapipoca no primeiro tempo. Um gol chorado do atacante Rogers – era ruim! - e um golaço do boa-gente Bechara. Mas faltavam 45 minutos.
Veio o segundo tempo e o time começou a apagar. O time do interior tentou domar o Leão. Um pênalti e uma expulsão no mesmo lance abriram o caminho para a tarde se transformar em tragédia.
O Itapipoca diminuiu e passou a mandar no jogo. O jogo se aproximava do fim, mas a agonia não acabava.
Não acabaria nunca – não fosse o dia em que o torcedor tricolor realmente venceu o jogo. Antes de o jogo apitar, ou de o Itapipoca empatar, o alambrado veio abaixo. A torcida invadira o campo e, com o mar de gente pendurada, a estrutura cedeu. Aquele buraco entre a arquibancada e o campo era a porta da felicidade.
Não teve mais condição de jogo. Se o jogo fosse limpo, e o futebol também, a torcida deveria ter esperado o apito final para comemorar ou lamentar.
Mas, após sete anos sem um título e há duas temporadas sem ganhar um turno, ninguém é racional. Ninguém contém ninguém. Ninguém pensa. Ninguém faz nada – senão torcer e até invadir campo, se preciso. O futebol é assim. O mundo também. Irracional, inconsequente, imediatista – louco.
Eu tinha 15 anos e estava perto da bandeira de escanteio. A cena era inacreditável: a arquibancada ao chão, pessoas sob o ferro e uma multidão transformando o alambrando em ponte para o campo. Loucura!
A última lembrança que tenho deste jogo foi de tentar convencer um senhor de idade a não invadir o campo. Ele se virou para mim e disse: “Rapaz, se eu fosse tu, invadia também. Vai que esse time não ganha mais nada!”.
Compreensível. O que é o futebol senão uma multidão de loucos momentâneos?
O Fortaleza acabou sendo campeão. Quatro meses depois, exatamente.
E o Ceará?
Bem, o preço do penta que não veio – até onde sei – custou caro ao Doutor Eulino, a “Seleção” amarelou, os gols que ficariam para a história do penta de nada valeram e o banco quase quebra o Ceará…
* Diego Lage é torcedor do Fortaleza há 22 anos e é chefe de reportagens especias da TV Jangadeiro
05/04/2013 - 15:57
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